quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Série - Textos longos: Nós pagamos, pronto

.
.
Era uma vez uma taxa de juros que vive em constante stresse. Ora para cima. Ora para baixo. Tipo montanha russa. Assim, a qualquer instante, lá está a subir ou a descer, conforme a vontade de outros. E, muitas vezes, sem perceber porquê… E nós também. Ou talvez não. Mas, enfim, como boa menina que é, obedece de forma educada. Nos últimos tempos, porém, o Gigante causa-lhe mais subidas e menos descidas.
.
Como já devem imaginar, a paciência tem limites. E as subidas também! Portanto, é natural que a menina taxa de juros sinta-se, cada vez mais, nervosa. Reparem, por mais que ela goste de andar na montanha russa, não gosta de subir assim tanto porque isso causa-lhe demasiadas vertigens. Além disso, muitos de nós deixam de vê-la com bons olhos. Há poucos anitos estava baixinha. E nós contentes da vida… Venha de lá esse empréstimo para tudo e para nada! Por sua vez, quem empresta, também não se fica atrás, antes pelo contrário. E, frequentemente, nessa panóplia de créditos não fazem referência à taxa de juros. Que ingratidão! Melhor, que pantominice! Pântano mais pântano não há, podia ser o slogan publicitário para esses créditos imaculados. Essa história de não haver almoços grátis é conversa fiada! Pensavam alguns e outros…
.
O Gigante, por seu lado, na ânsia voraz de alimentar a sua gula, cresce ao ritmo dos leilões em que vende um pouco mais do que resta deste rectângulo encrostado numa península dita ibérica. Ou seja, ficam gradualmente hipotecados os seus futuros rendimentos. Antes de cada leilão, fazem-se apostas: a taxa sobe, a taxa mantém ou a taxa desce. Qual "1X2" na versão financeira! Certo, certo, é que o buraco aumenta. Pudera, o Gigante vive obcecado com as grandezas!
.
Esta história não fica por aqui, desenganem-se. A menina taxa de juros gosta que lhe deem atenção, claro. Tem o direito de ser um pouco vaidosa, certo? Mas, tudo o que é demais… Aliás, a taxa começa a ficar muito mal vista sem culpa alguma. Já lhe chamam tantos nomes, imaginem! Qual nome pior do que outro: TAN, TAE, TAEG, TANB, etc. E apelidos também não lhe faltam!... Agora, nesta matéria, a coisa parece ser mais fina, vejam: indexante (Euribor, Libor, entre outros) e o inevitável spread, de origem anglo-saxónica.
.
Nos vários tipos de créditos, o Gigante aproveita-se da taxa de juros, obviamente. Não fosse ele um grande glutão! Pois é, associa-lhe um imposto desconhecido (e desprezado por muitos), designado de selo, e pimba! Mais 4% sobre a taxa de juros para o buraco. Em milhões de juros pagos, referentes a milhares de empréstimos, imaginem a massa que isto dá? Nós pagamos, pronto.
.

2 comentários:

  1. Essa cena que descreve, está a evoluir
    A partir de hoje, a taxa é sempre a subir
    E se não pagar, não fique muito incomodado
    ir-se-á juntar, ao crédito mal parado
    (Se for pouco é que é preciso cuidado...)

    ResponderEliminar
  2. Caro Rogério
    Para mim, é muito preocupante a aproximação da taxa da dívida pública a 5 anos (ultrapassa, neste momento, 7,4%; novos máximos) da taxa a 10 anos (pouco mais de 7,5%; perto dos máximos). Isto não é mau. Isto é péssimo! Vejamos, de forma simples. As operações de financiamento, em idênticas condições, oferecem maiores riscos quanto maior for o prazo. Se as taxas a 5 anos superarem as que são praticadas a 10 anos, então, quebra-se este princípio financeiro básico. Para não escrever sobre as perspectivas de evolução do nosso PIB e da taxa de desemprego...
    Um abraço,

    ResponderEliminar